Boulos na Roda Viva
(Renato Lessa)
(Renato Lessa)
Muito boa a entrevista de Guilherme Boulos, ao programa Roda Viva da última segunda-feira (7/5). Boulos sobrou, diante de uma bancada não muito iluminada. Sua performance poderia ser melhor, se fosse entrevistado por gente mais qualificada. No geral, enfrentou perguntas toscas, confusas e patéticas, que não chegaram a testá-lo e a exigir esforço de reflexão mais complexo. Boulos, por certo, não tem culpa na matéria e saiu intacto, tendo passado de forma clara seu recado.
Boulos enfrentou com clareza duas questões cruciais para qualquer governo de centro- esquerda no país:
(i) a revisão da política tributária, com a tributação efetiva dos muito ricos e dos usufrutuários de dividendos, postos em uma bolha paradisíaca por Pedro Malan e Fernando Henrique Cardoso em 1996. Desde então, o país é um paraíso fiscal para quem é muito rico, detém o capital financeiro e vive de lucros e dividendos.
(ii) o tema da desigualdade como eixo conceitual e político de um programa de governo.
O lado menos feliz da entrevista foi provocado, por mais absurdo que isso possa parecer, pelo conjunto mais tosco de perguntas que lhe foram feitas, a respeito do “tipo de socialismo” desejado por Boulos e seu partido, e qual “modelo” lhes serviria de orientação. Boulos reaqueceu o velho mantra de que "cada país deve encontrar o seu caminho", e eximiu-se de qualquer crítica ao “socialismo real”. Perdeu a oportunidade de, diante de uma das maiores estultices vazadas por um de seus entrevistadores – que declarou que “onde há democracia, não há socialismo” –, explicar a importância histórica de partidos de esquerda e de movimentos sociais na afirmação de agendas igualitárias que acabaram por ser fixadas no quadro das mais avançadas democracias do pós-IIa Guerra. Nesse países, a qualidade da democracia não depende, tal como repetem os politicólogos conservadores, da “qualidade das instituições políticas”, mas da força e consistência de agendas igualitárias, no quadro do Estado de Bem-Estar Social.
Nada do que Boulos disse é incompatível com uma agenda agressiva de defesa do Estado de Bem Estar Social. Na verdade, ele enunciou – ao tratar da questão tributária – a condição necessária para tal fortalecimento. Pena que não tenha declinado o nome da coisa e reconhecido, assim, a dívida que temos – todos aqueles inscritos no campo do socialismo democrático – com o legado de reformas impostas pelos trabalhadores, e por partidos e movimentos a eles ligados, ao quadro mais geral dos regimes democráticos.
Nada do que Boulos disse o situa no campo da “extrema esquerda”. Para quem perdeu a memória do que é uma campanha presidencial de extrema esquerda, é bom olhar os vídeos das campanhas de José Maria, do PSTU, e de Luciana Genro, do PSOL de antanho.
É um alento ter um quadro como Boulos disputando a faixa esquerda da cancha, não por meio de enunciação sectária de princípios vagos e tribais, mas pela indicação de temas cruciais e tangíveis, que devem ser objeto de reforma e de reconfiguração. O que apresentou foram as tinturas mais gerais de um programa de “reformismo forte”. É evidente que há estratégia na coisa – e como não haver? –, e que Boulos, talvez seguro da posse dos votos mais à esquerda, pelos símbolos que seu partido evoca, dirigiu-se à gente que cogita buscar alternativa de centro-esquerda para a eventualidade – no sentido brasileiro e inglês do termo – do impeachment eleitoral de Lula. Que assim seja. É da vida.
O fato é que, com a excelente entrevista da segunda feira, Boulos qualifica-se para conversar com a centro-esquerda ou, com aquilo, que na política francesa se denomina como a “esquerda de governo”. Boulos parece saber que a estratégia da política do gueto é incompatível com a defesa e a aplicação do programa que propõe ao país. Espero que não o empurrem para lá...
Boulos enfrentou com clareza duas questões cruciais para qualquer governo de centro- esquerda no país:
(i) a revisão da política tributária, com a tributação efetiva dos muito ricos e dos usufrutuários de dividendos, postos em uma bolha paradisíaca por Pedro Malan e Fernando Henrique Cardoso em 1996. Desde então, o país é um paraíso fiscal para quem é muito rico, detém o capital financeiro e vive de lucros e dividendos.
(ii) o tema da desigualdade como eixo conceitual e político de um programa de governo.
O lado menos feliz da entrevista foi provocado, por mais absurdo que isso possa parecer, pelo conjunto mais tosco de perguntas que lhe foram feitas, a respeito do “tipo de socialismo” desejado por Boulos e seu partido, e qual “modelo” lhes serviria de orientação. Boulos reaqueceu o velho mantra de que "cada país deve encontrar o seu caminho", e eximiu-se de qualquer crítica ao “socialismo real”. Perdeu a oportunidade de, diante de uma das maiores estultices vazadas por um de seus entrevistadores – que declarou que “onde há democracia, não há socialismo” –, explicar a importância histórica de partidos de esquerda e de movimentos sociais na afirmação de agendas igualitárias que acabaram por ser fixadas no quadro das mais avançadas democracias do pós-IIa Guerra. Nesse países, a qualidade da democracia não depende, tal como repetem os politicólogos conservadores, da “qualidade das instituições políticas”, mas da força e consistência de agendas igualitárias, no quadro do Estado de Bem-Estar Social.
Nada do que Boulos disse é incompatível com uma agenda agressiva de defesa do Estado de Bem Estar Social. Na verdade, ele enunciou – ao tratar da questão tributária – a condição necessária para tal fortalecimento. Pena que não tenha declinado o nome da coisa e reconhecido, assim, a dívida que temos – todos aqueles inscritos no campo do socialismo democrático – com o legado de reformas impostas pelos trabalhadores, e por partidos e movimentos a eles ligados, ao quadro mais geral dos regimes democráticos.
Nada do que Boulos disse o situa no campo da “extrema esquerda”. Para quem perdeu a memória do que é uma campanha presidencial de extrema esquerda, é bom olhar os vídeos das campanhas de José Maria, do PSTU, e de Luciana Genro, do PSOL de antanho.
É um alento ter um quadro como Boulos disputando a faixa esquerda da cancha, não por meio de enunciação sectária de princípios vagos e tribais, mas pela indicação de temas cruciais e tangíveis, que devem ser objeto de reforma e de reconfiguração. O que apresentou foram as tinturas mais gerais de um programa de “reformismo forte”. É evidente que há estratégia na coisa – e como não haver? –, e que Boulos, talvez seguro da posse dos votos mais à esquerda, pelos símbolos que seu partido evoca, dirigiu-se à gente que cogita buscar alternativa de centro-esquerda para a eventualidade – no sentido brasileiro e inglês do termo – do impeachment eleitoral de Lula. Que assim seja. É da vida.
O fato é que, com a excelente entrevista da segunda feira, Boulos qualifica-se para conversar com a centro-esquerda ou, com aquilo, que na política francesa se denomina como a “esquerda de governo”. Boulos parece saber que a estratégia da política do gueto é incompatível com a defesa e a aplicação do programa que propõe ao país. Espero que não o empurrem para lá...
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